É extraordinário como os comentadores e jornalistas dedicados a argumentos em defesa da direita enganam, omitem, distorcem, deturpam para confundir os que, menos atentos, mesmo que os factos os desmintam. Defendem causas que lhes pode trazer a prazo vantagens para sua tabanca.
Quando uma votação coincide com o que eles esperam lhes agrada é sempre uma votação na responsabilidade, na estabilidade, na competência e de clareza no caminho desejado, caso contrário é a votação na irresponsabilidade, na insegurança, etc., etc.. Ao longo dos anos é sempre o mesmo.
Dou apenas dois exemplos de colunista de jornais e de comentadores de televisão cujas opiniões e a credibilidade, mais do que uma vez já foram contraditadas pelos factos. São um tal de Pereira Coutinho, do Correio da Manhã e da CMTV e Henrique Monteiro colunista do jornal Expresso que, quando bem calha, e por interesse de opinião, surge nos canais de televisão da SIC que pertencem ao mesmo grupo do Expresso.
Eduardo Monteiro está sempre com um meio sorriso (será de escárnio?) que mais parece estar sempre a "gozar" com tudo o que comenta, outras vezes parece estar zangado com a vida. Pois este dito jornalista que, pensa ele, ser isento nos comentários que verbaliza diz coisas tão atabalhoadas que ninguém percebe.
Ontem, no canal SIC Notícias, ao comentar o referendo na Grécia onde o NÃO ganhou por larga maioria disse, no momento em que no ecrã passavam imagens dos gregos a festejar a vitória, que os gregos estão a festejar, mas nem sabem o quê. Pois, para Monteiro, os gregos são uma cambada de estúpidos que não sabem em que votaram nem para quê. Ao falar-se do número de votantes da fraca abstenção e da percentagem conseguida pelo NÃO lança outra, dizendo que ali até os mortos estão a votar.
Como é possível que dum sujeito, enquanto jornalista, se esperava seriedade, lança para o ar estas "bacoradas". Será isto um contributo para a credibilidade dos comentadores que andam por aí a enxamear e a encher a cabeça dos cidadãos que os escutam, contribuindo para o descrédito da comunicação social.
Temos outro espécime requintado, esse, declaradamente da direita extremista que pretende enganar quem o ouve utilizando a técnica do medo, e que é um tal Pereira Coutinho. Este, lança para o ar a ideia de que o não pagamento de salários e pensões na Grécia pode também vir a acontecer em Portugal, como se o Governo que ele pretende apoiar não o tivesse já feito.
Mas confunde e deturpa a realidade quando associa, sem qualquer prova do que diz, o problema da Grécia ao aumento de impostos, cortes de salários e de pensões que Portugal poderá ou poderia sofrer por causa dos gregos terem optado pelo NÃO.
A direita pretende passar a mensagem de que os problemas da Grécia foram devido ao atual governo democraticamente eleito, o que é falso. Não foi o Syrisa, no poder há cerca de seis meses apenas, que levou os gregos à situação em que se encontram, foram as coligações de direita que o precederam.
A causa final para o Syrisa estar no poder foi ao estado a que a direita conduziu a Grécia. É evidente que a austeridade excessiva, a difusão da pobreza, a perda de poder compra, os cortes nos rendimentos, o desespero, os impostos que as grandes empresas não pagam, por mais que a direita diga o contrário, foi da responsabilidade de quem antes esteve no poder que acabou por resultar numa viragem para o extremo.
Os gregos no domingo passado deram uma lição de inconformismo apesar de todas as vicissitudes, sacrifícios, ansiedades, dúvidas, não recebimento total de reformas, fecho dos bancos e a impossibilidade de poderem levantar mais do que 60 euros, como se a grande maioria tivesse a necessidade ou a possibilidade de levantar diariamente aquele valor (1800 euros mês!).
Os gregos no domingo passado deram uma lição de inconformismo apesar de todas as vicissitudes, sacrifícios, ansiedades, dúvidas, fecho dos bancos e a impossibilidade de poderem levantar mais do que 60 euros, como se a grande maioria tivesse a necessidade ou a possibilidade de levantar diariamente aquele valor (1800 euros mês!).
Nós, portugueses, somos na Europa um povo muito estranho nas suas atitudes e comportamento sociopolítico enquanto somatório dos comportamentos individuais que afetam o modo como pensa, talvez fruto dum regime que, apesar de ter caído no 25 de abril de 1974, ainda se mantem como uma espécie de componente do seu gene social.
Quando sujeitos a situações de carências várias esses comportamentos são manifestos na forma como aceitam com resignação e submissão a que o obrigam.
Foi assim que Deus quis! O que havemos de fazer? Manifestam.
Há outros piores do que nós!
Então o que é que havemos de fazer, é assim!
Outras formas de pensamento manifestos apenas nos seus círculos familiares ou de amigos revelam uma resignação e aceitação a tudo dizendo:
Olha, ficamos com menos, mas ainda nos dá para ir vivendo! Cortam-lhe tudo a que devia ter direito sem reclamar e diz, vamos vivendo com o que ainda temos.
Cortam-lhe no salário e… vá lá que ainda tenho trabalho… cá vamos vivendo.
Aceita trabalhos com salários que os leva ou mantêm ao nível da pobreza e dizem-lhe: vale mais teres este trabalho do que não teres nenhum.
Cortam-lhe ainda mais em tudo até ao limite e dizem: ainda bem que tenho as cantinas sociais.
Ficam sem a casa e dizem: paciência a minhas família vai ter que ajudar.
Tem que tomar um medicamento três vezes ao dia para manutenção da sua saúde mas não tem como pagar e diz: paciência, passo a tomar apenas uma vez ao dia. Não tem dinheiro para pagar a energia que foi cortada e logo pensa: que hei de fazer, tenho ali umas velas, como é verão os dias são mais longos.
No inverno diz para quem está perto de si: tenho ali uma mantinha que me deram lá na paróquia, sempre serve bem para aquecer.
Isto até à exaustão.
Que vida é esta? Que povo é este?
Formas de pensar que o conduzem a uma espécie de suicídio lento.
Todos falamos de barriga cheia, especialmente aqueles que por aí andam a contribuir para defender e ajudar à manutenção daquele tipo de atitudes conformistas. Veja-se como todos eles criticam o inconformismo do povo grego.
Sabendo-se que no mundo atual o motor da economia deve ter sempre por base uma forte iniciativa privada nos dias que correm, serão poucos aqueles que, mesmo sem o saberem, são liberais. Aliás, todos os partidos com exceção dos ortodoxos de esquerda têm um gene liberal no seu ADN ideológico, sejam eles democratas-cristãos, sociais-democratas ou socialistas (estes últimos consoante os países) para isso basta assumirem a importância da iniciativa privada como motor da economia.
Para que não haja equívocos de interpretação consideramos neste contexto que os liberais sociais defendem os direitos humanos e as liberdades civis e, neste âmbito, combinam o apoio a uma economia em que o Estado desempenha essencialmente um papel de regulador e de garantidor que todos têm acesso, independentemente da sua capacidade económica, a serviços públicos que asseguram os direitos sociais fundamentais.
Neste contexto o PSD e o CDS são hoje partidos que deixaram as suas raízes e passaram a ser neoliberais que apregoam a redução do estado à sua expressão mais simples, seja lá isso o quer que seja. Dizem que o Estado tem demasiado poder e intervém em excesso na economia. Tem-se provado a falsidade destas afirmações demonstrada pelo recente caso do BES, entre outros.
Fora de Portugal o caso da Grécia é a prova onde a imposição de medidas neoliberais conduziram a um desastre financeiro e económico onde os neoliberais da Nova Democracia perderam as eleições e o partido socialista grego PASOK, ficou reduzindo a uns escassos 4,7%. É isso que os neoliberais pretendem ficarem apenas eles com o controle da democracia. Mas, no caso da Grécia, enganaram-se fazendo disparar o Syriza e, em Espanha, veremos o que vai acontecer com o Podemos.
Como se tem visto nas reuniões do Eurogrupo as pressões sobre a Grécia são tentativas para derrubar o atual Governo e menos para tentar ajudar a Grécia a sair da crise. Após seis anos de austeridade a Grécia cresceu apenas 0,6%. Com mais austeridade o que pode acontecer é ainda uma incógnita cujo resultado pode ser conhecido em breve. As afirmações de Schäuble sobre a Grécia são a prova quando disse hipocritamente que "Sinto muito pelo gregos. Elegeram um Governo que, neste momento, comporta-se de maneira bastante irresponsável" e rematou a reunião do Eurogrupo com "Os gregos vão ter certamente dificuldades em explicar este acordo aos seus eleitores...".
Senhores financeiramente bem instalados, cujos rendimentos lhe proporcionam dispensarem o que for do Estado seja ao nível da saúde, da educação ou quaisquer outros serviços. Defendem um Estado do todos cada um per si e o do salve-se quem poder. Daí que defendam a privatização de toda a economia desde que lucrativa incluindo os serviços que devem ser da exclusiva responsabilidade do Estado. Isto é, o Estado deve privatizar tudo quanto for lucrativo e assumir tudo o der prejuízo. Aliás em muitas das privatizações é isso que se passa quem compra fica apenas com os ativos e o Estado com os passivos.
Todavia, defendem parcerias público privadas e subsídios a setores de atividade através dos impostos pagos por todos de que beneficiam apenas alguns cidadãos.
Foi esta a base ideológica da política em que o nosso atual Governo de baseou. À despesa exagerada e incontrolada do Governo anterior com a finalidade de dinamizar a economia através do consumo interno, o atual baseou o controlo da despesa apenas em cortes no setor social, salários da função pública, pensões de reforma, deixando à revelia outras áreas, nomeadamente no que se refere a sectores para onde o Estado canaliza verbas dos impostos que resultam na acumulação dos lucros em grandes empresas.
Apesar do abrandamento das medidas de austeridade e dos discursos de falinhas de mansas enganadoras do primeiro-ministro Passos Coelho e seus acólitos, elogiando um incipiente crescimento económico de 0,9% (relativamente às austeridades praticadas a Grécia conseguiu melhor) podemos ter a certeza que a austeridade apenas estacionou na berma devido à aproximação de eleições. Basta estar atento às declarações da ministra das finanças
No encerramento de uma conferência Maria Luís Albuquerque afirmou que os níveis de dívida pública e privada são elevados e que “o potencial de mais reformas é ainda grande” e, depois dos avisos deixados pelo Eurogrupo, Maria Luís Albuquerque manteve que Portugal vai ter um défice abaixo dos 3 por cento, saindo do procedimento de défice excessivo. Hoje, 10 de março, reafirmou que não serão precisas outras medidas para cumprir o objetivo do défice português para este ano mas, sobre a necessidade de mais reformas se for caso disso, afirmou: "…como já dissemos o Governo português mantem-se atento e ajustará a estratégia quando for necessário….". Deixa implícito o que poderá vir a acontecer. É apenas um ponto morto temporário até às eleições. Na eventualidade dos partidos do Governo ganharem as eleições já todos sabemos o que nos espera.
Passos Coelho está agora mais exposto do que nunca à crítica. A partir de 17 de maio deixa de ter o álibi da troika, mesmo que saibamos que a vigilância dos credores vai continuar, mesmo que mitigada. Uma das batalhas mais importantes é controlar e saldar da dívida. Parece absolutamente claro que, a prazo, a Europa no seu conjunto vai ter de encontrar uma solução, entre as que estão em cima da mesa, para permitir um maior desafogo no pagamento das dívidas dos Estados membros. E pelo que consta na imprensa internacional a Grécia está a ficar bem vista. É a euforia total nesta Europa da austeridade e castigo para os países do sul.
Com a aproximação das eleições europeias a U.E. parece ter entrado numa euforia de promessas ilusórias e ritmos duma gestão política inverosímil comandados pelos países do norte, nomeadamente a Alemanha. Os países do sul estão agora a ser vistos, por aqueles e pela própria Comissão Europeia com outros olhos e lançando para as opiniões públicas vãs ilusões de recuperação. Tudo artificial. Até a própria Grécia já está a ser apontada como um caso prestes a ser resolvido, assim como Portugal.
Todos nos recordamos que a Grécia era o mau aluno e o mau exemplo que, o bom aluno, nós, não devíamos acompanhar mas antes afastarmo-nos dele. Tal como na escola onde pais muito cuidadosos e atentos dizem ao seu filho, cuidado não te dês com aquele aluno, porque ficas mal visto.
O que se passa hoje é que a própria europa considera hoje que também a Grécia está no bom caminho.
Esta informação parte da Agência Estatística Europeia (Eurostat) que confirma uma reviravolta muito positiva das finanças públicas. Segundo naquele jornal "a Grécia abre caminho para novas medidas de redução da dívida por parte dos parceiros da zona do euro da Grécia nos próximos meses. De acordo com os dados, a Grécia alcançou um excedente orçamental primário-antes de contar-pagamentos de dívida € 1,5 mil milhões 2013 (2,08 mil milhões de dólares americanos); um ano antes das expectativas e maior do que a meta estabelecida pelos credores internacionais do país que estipularam que Atenas apontou para um orçamento preliminar equilibrado no ano passado. Os dados são um "reflexo do progresso notável que a Grécia fez em consertar as suas finanças públicas desde 2010, "Simon O'Connor, porta-voz da Comissão Europeia disse numa conferência de imprensa em Bruxelas. No ano passado, o superávit primário é o primeiro conseguido pela Grécia numa década, e a confirmação pelo Eurostat na quarta-feira vem quase exatamente quatro anos depois de a Grécia ter pedido dois resgates internacionais sucessivos para corrigir seus problemas de orçamento e reformar sua economia.".
Tudo isto para provarem antes das eleições que o desastre que provocaram nos países do sul foi o caminho certo e, portanto deu resultados que esperam se reflita nas eleições.